Colocar um novo produto no mercado ou fazer a manutenção de um existente é uma tarefa trabalhosa. Antes de qualquer decisão definitiva, há um longo processo de product discovery para que se dê início ou continuidade ao processo de gestão de produtos, servindo para mitigar riscos o máximo possível para que o roadmap do produto e seus resultados estejam alinhados com as expectativas para ele.
Esse é o assunto que discutiremos ao longo deste artigo, além de que irei te contar as pessoas envolvidas na etapa de descoberta de produto e como fazer. Vamos lá?
O que é product discovery?
O Product Discovery é um processo com diversas etapas para identificar e definir oportunidades de produtos para o mercado, seja para um produto já existente ou um novo. O processo começa com o entendimento de dores de pessoas e finaliza com o desenvolvimento do produto, quando já houver maior segurança para avançar para essa etapa.
Na primeira etapa do discovery são detectados problemas ou dificuldades enfrentadas, bem como as hipóteses de solução para tais. A partir disso, é verificada a viabilidade de mercado do produto para o mercado. O processo de descoberta é um dos mais demorados, pois muitas informações são investigadas e ideias são testadas.
Detectado o problema ou oportunidade de negócio, a ideia de produto já pode ser encaminhada para a etapa de product delivery, a qual cairá na esteira de produção das equipes de desenvolvimento até que seja lançado o produto.
Embora o product discovery seja comumente associado à concepção de novos produtos, em especial MVPs, tal processo de descoberta também é aplicável a produtos já existentes. A pesquisa de oportunidade também faz parte da atualização do roadmap de produto, apontando novos recursos e soluções para oferecer.
Em suma, podemos dizer que o product discovery é uma etapa de pesquisa orientada à identificação de problemas e, eventualmente, oportunidades de negócios.
Qual a importância do product discovery?
É a partir do product discovery que há uma maior segurança quanto a viabilidade de lançar um produto no mercado — ou atualizações de um já existente. Afinal, a prática busca investigar para além da oportunidade, mas também o porquê as pessoas prefeririam sua solução, como construir da melhor forma o produto, além de aprofundar numa visão de mercado que faz a diferença para as tomadas de decisão.
Ou seja, ao se fazer o product discovery, as taxas de erros são mitigadas, pois as decisões são tomadas com base em dados levantados e feedbacks de usuários. Assim, há uma maior confiabilidade para o desenvolvimento do produto.
Para isso, o product discovery trabalha com duas vertentes:
Mitigação de riscos
São quatro as categorias de riscos que o product discovery se propõe sanar:
- de valor: dita sobre a percepção dos clientes quanto ao produto, se ele irá agregar valor o suficiente para despertar interesse em relacionar com o produto ou não, se faz sentido trocar a solução atual pela sua proposta;
- de usabilidade: já este aspecto é quanto a facilidade de uso por parte dos usuários, se conseguirão completar suas jornadas para que a usabilidade de fato entregue a resolução do problema que o produto está se propondo a resolver. Afinal, existem aplicações que são mais complexas do que as outras, logo, esse risco precisa ser mitigado através de uma boa experiência do usuário;
- de execução: este é um momento de avaliar as condições internas, ponderando se os recursos disponíveis são suficientes para a execução do produto, como orçamento, equipe e habilidades técnicas e comportamentais, parceiros-chave, dentre outros elementos previstos no business model canvas;
- de viabilidade: estrategicamente falando, o produto é vantajoso para negócios? Oferece resultados que promovam a manutenção e crescimento da empresa? O break even é uma meta alcançável? Essas são algumas das perguntas de podem ser respondidas para avaliar a viabilidade de negócios do produto.
Mentalidade de Growth Hacking
O Growth Hacking diz respeito ao crescimento organizacional, com a mentalidade orientada a investigar oportunidades de aprimoramento e evolução do produto de forma que os resultados sejam otimizados/impulsionados. Por isso, o product discovery pode também ir nessa vertente se preocupando com:
- aumentar as vendas: como gerar mais leads e tracionar as movimentações do time comercial?
- maior engajamento: como fidelizar cada vez mais os usuários e torná-los advogados do produto?
- inovação: como posso renovar o produto para que ele traga uma mudança disruptiva e com valor para o mercado?
- novas oportunidades: quais outras oportunidades de mercado posso abraçar? Quais funcionalidades convém acrescentar ao roadmap do produto?
Essas perguntas norteiam os objetivos por trás da mentalidade de growth para o product discovery.
Pessoas envolvidas no product discovery de aplicativos
A atividade de product discovery é multidisciplinar, por isso, são várias as pessoas envolvidas nessa etapa de descoberta, como:
Product Manager
Essa é a pessoa responsável pela gestão do produto. Suas atividades giram em torno da liderança do produto que contempla o alinhamento entre os stakeholders, clientes e também a equipe multidisciplinar que colocará a mão na massa para o desenvolvimento do produto, como é o caso dos squads ágeis.
Designers de produto
A equipe de experiência precisa criar uma ponte entre o produto e os usuários para o entendimento e coleta de feedback relevantes. É através da UX Research que são levantadas dados pertinentes para o processo criativo e de desenvolvimento de um produto. Por isso, essa equipe é fundamental para o product discovery.
Se tratando de produtos de software como aplicativos, a partir da coleta de informações que os UI/UX designers irão projetar as interfaces dos aplicativos, quais ações irão acontecer, qual o fluxo de atividades, a UX Writing, dentre outros fatores que ditam a experiência do usuário.
Desenvolvedores
Finalizada a concepção das interfaces, chega o momento de colocar a mão no código para o desenvolvimento da POC, isto é, prova de conceito. É a partir dela que serão testadas as hipóteses com usuários reais para fins de ratificação.
Se tratando de aplicativos, os desenvolvedores envolvidos podem ser tanto híbridos quanto nativos, sendo as principais diferenças entre os tipos de desenvolvimento o nível acesso ao hardware dos dispositivos e performance.
Para o desenvolvimento nativo, contaremos com os desenvolvedores Android ou iOS, enquanto que os híbridos podem ser devs do framework Flutter.
Haverá a necessidade também de desenvolvedores front-end que servirão para dar vida aos dashboards administrativos. Há também os back-end, que criam as funcionalidades, gestão do banco de dados e criação de APIs, fatores que serão utilizados pelos desenvolvedores front-end e mobile.
Para além de quem colocará a mão no código, as equipes de desenvolvimento precisam de gestão, essa sob a responsabilidade de Scrum Masters para equipes que adotam o Scrum como método ágil.
Analistas de dados
A vantagem dos aplicativos serem parte dos produtos digitais é que eles são rastreáveis e mensuráveis. Logo, é possível acompanhar as interações dos usuários e gerar insights para a manutenção do produto.
Por isso, ter pelo menos uma pessoa responsável pelas métricas é importante para este acompanhamento e geração de relatórios mobile app analytics.
Especialistas de marketing
Toda a parte de pesquisa de mercado, análise de concorrências e entendimento da persona também tem profissionais de marketing envolvidos. A formação da estratégia de penetração do produto no mercado, como o go-to-market, são competências técnicas de profissionais de marketing.
Por isso, tê-los na equipe de product discovery fará a diferença. A gestão do produto dependerá também da atuação do product marketing manager, além de outras competências como branding e ASO.
Usuários
Como os produtos são criados para atender pessoas reais, elas devem fazer parte do processo para oferecer seus feedbacks. A etapa de compreender os usuários e propor soluções já é desafiadora por si só. Sem o feedback de pessoas com potencial para utilizar será ainda mais difícil avançar com a descoberta do produto.
Como fazer product discovery?
Não existe um formato certo para fazer a descoberta de produto. Os cenários são diversos, logo, nenhum framework será capaz de contemplar todas as possibilidades.
De toda forma, há etapas que serão imprescindíveis:
Levantar problema, necessidade ou oportunidade
Como toda a discussão aqui girou em torno de encontrar uma oportunidade e validá-la, o primeiro passo deve ser exatamente esse.
Escolha o nicho que gostaria de investigar, podendo ser a área de atuação a qual sua empresa ou equipe já possui know how ou experiências anteriores.
Feito isso, esse é o momento de se aproximar de pessoas e ouvir sobre seus cotidianos. Uma estratégia interessante é participar de grupos de redes sociais e acompanhar discussões, ou promovê-las.
Outra possibilidade é investigar a concorrência, identificando pontos fortes e fracos para que sua solução ofereça tal diferencial.
Hipóteses de solução
Entendido o cenário de oportunidades, chega o momento de elaborar ideias. Após ouvir e anotar tudo que puder dos feedbacks das pessoas, faça uma análise minuciosa. Tudo pode ser uma pista, inclusive a ausência de uma resposta..
Validação de hipótese
Neste momento cabe a criação de layouts e o desenvolvimento deles para chegar na sua POC. Com ela em mãos, é o momento do teste! Ainda num cenário de homologação, colete feedbacks, veja o que pode ser aprimorado para que sua prova de conceito evolua para um MVP.
Delivery
Nessa etapa o produto é entregue aos usuários, isto é, disponibilizá-lo para o público. O aplicativo aqui contará com forte presença da equipe de marketing para realizar um bom trabalho de lançamento do aplicativo.
Acompanhamento
Para garantir que o aplicativo tenha qualidade, ele precisa ser acompanhado de perto e ter seu roadmap em constante evolução. À medida que ele estiver com os usuários, novos feedbacks serão colhidos, mudanças no mercado terão acontecido, por isso, convém os aprimoramentos no produto para que ele continue agregando valor.
Assim, as etapas do product discovery serão constantes durante o ciclo de vida do produto junto da mentalidade de growth, já discutido aqui.
Para garantir a qualidade do produto na fase de validação bem como de lançamento no mercado, contar com os squads ágeis de desenvolvimento fará toda a diferença.
Essa formação de equipe foi criada pelo Spotify como forma de aprimorar o aplicativo de streaming, dividindo uma grande em equipe em menores para que a gestão e o desenvolvimento do produto fosse mais eficiente. Entenda melhor lendo meu artigo sobre os squads ágeis de desenvolvimento:
