Fracasso da Kodak: como não falir na era digital

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A facilidade que temos hoje em fazer um registro fotográfico começou há mais de 100 anos, lá quando George Eastman colocou sua curiosidade para produzir engenhocas, criando a empresa de câmeras fotográficas mais importante do mundo — a Kodak. O sucesso da empresa veio com a praticidade em registrar momentos e reproduzi-las, enquanto que seu declínio veio com uma invenção própria, culminando no fracasso da Kodak.

O problema, na verdade, não foi a invenção em si, mas sim a dificuldade de lidar com as posteriores inovações que surgiram com a digitalização das câmeras fotográficas. A Kodak insistiu em se manter tradicional, o que a levou decretar falência em 2012. Assim, a empresa serve de grande exemplo do que não fazer durante a transformação digital e evitar o fracasso.

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A história da Kodak

Ainda atendente de banco, em 1878, George Eastman iniciou a invenção de placas metálicas que registravam imagens a partir da luz, elemento fundamental para a fotografia. Afinal, pela etimologia, fotografia significa “desenhar na luz” ou “com a luz”.

Porém, a empresa Eastman Dry Plate Company surgiu somente em 1880, em Rochester-NY. Em parceria com Henry Strong, Eastman deu início ao seu legado das câmeras fotográficas. Uma das primeiras invenções da empresa foram os filmes fotográficos, tornando possível a reprodução dessas imagens gravadas pela luz em 1884, viabilizando até mesmo o cinema de Hollywood.

Os grandes feitos da Kodak

Os filmes fotográficos inventados por Eastman também trouxe facilidades para o mundo da fotografia, uma vez que eram necessários treinamentos para manusear as câmeras da época. As placas usadas nas câmeras, similares aos filmes, eram bastante pesadas e qualquer sinal de luz externa era sinônimo de material perdido, porque elas registravam toda luz que batia. Inclusive, a embalagem das placas vinha escrito “to be opened only in photographic dark room”. Logo, os filmes trouxeram uma outra perspectiva para as fotos.

Uma sala escura para revelação de fotos

O slogan “You press the button, we do the rest” não foi enganoso. De fato cabia aos fotógrafos apenas pressionarem o botão, porque a revelação e reposição do filme fotográfico era 100% por conta da até então Eastman Dry Plate Company. Além disso, a empresa conseguiu se destacar com os filmes por um segundo momento: inicialmente, eles faziam apenas registros preto e branco. Já a partir de 1935, as cores também puderam ser gravadas, significando mais um grande avanço para o cenário das fotografias.

Propaganda da Kodak

Filmes e democratização da fotografia

Os avanços dos filmes coloridos permitiram criar um novo modelo de filmes, o Kodacolor em 1942. Neste ano, a empresa de George já se chamava Eastman Kodak Company, porém o fundador não estava presente para ver as evoluções e mudanças. George havia cometido suicídio em 1932. Mas o passo fundamental para a democratização da fotografia ele pôde ver.

Em 1900 lança-se a câmera Brownie, cujo preço era de apenas 1 dólar. A partir deste momento, as fotografias deixaram de ser restritas aos profissionais, abrindo margem para as fotografias amadoras e pessoais.

Uma câmera Brownie da Kodak

Este primeiro modelo Brownie deu origem há um outro bastante popular. 59 anos mais tarde, surge a Starmatic, vendendo um total de 10 milhões de unidades nos primeiros 5 anos de mercado. A empresa detinha grande parte do market share da década de 60, contabilizando 4 bilhões de dólares e 100 mil funcionários. A popularidade e poder da empresa era tamanho que a primeira fotografia da Terra tirada no espaço em 1966 foi numa câmera Kodak.

Uma câmera de impressão instantânea

Onde começou o fracasso da Kodak?

Da Brownie em diante, o mercado das câmeras fotográficas só expandiu, sendo muitas delas parte do portfólio da empresa de Eastman. Quem via a empresa na época jamais imaginaria o fracasso da Kodak, que veio com as câmeras digitais. A Kodak patenteou esse tipo de tecnologia, sendo a primeira a inventar uma câmera digital graças ao engenheiro Steven Sasson, em 1975.

Porém, a câmera de 3,5 Kg não chegou aos mercados, não passando apenas de um protótipo. Mais tarde, o mesmo engenheiro e o parceiro Robert Hills desenvolveram a primeira DSLR, cujo armazenamento era em cartões de memória e não em filmes. Como grande parte do faturamento da Kodak dependia dos filmes fotográficos, as câmeras digitais representavam uma ameaça. Assim, a diretoria vetou quaisquer projetos digitalizados em prol do mundo fotográfico analógico. E foi aí que tudo começou a dar errado. 

O plano de negócios da Kodak era dominar o mercado de câmeras, filmes fotográficos e revelação das fotografias — dois terços do mercado mundial eram por conta da companhia. Porém, a concorrência japonesa, Fujifilm, começou a tomar espaço no mercado e visibilidade com a tecnologia digital, oferecendo equipamentos mais acessíveis. Assim, a empresa que faturava 16 bilhões de dólares em 1996, valendo mais de 31 bilhões de dólares, viu seu caixa esgotar como numa liquidação. Sem um dos pilares, os demais começaram a cair, culminando no fracasso da Kodak.

A falha

O grande erro da Kodak foi não embarcar com rigor na jornada digital. Isto é, engajar na jornada digital e adaptar seus negócios para uma lógica digitalizada. Aderir à transformação digital não quer dizer mudar tudo repentinamente, e sim fazer implementações incrementais, pouco a pouco. Afinal, na época, haviam diferentes públicos para educar e se acostumarem com o mundo digital: a própria empresa, os funcionários e os consumidores.

Qualquer negócio que se aventura neste campo virtual precisa de tempo para se adaptar. Isso é visível quando observamos o grau de transformação digital das empresas ao redor do mundo. Segundo pesquisa da Gartner feita em 2018, somente 6% dos negócios já se transformaram mais do que 75%.

Portanto, diante dessa observação, podemos especular que o fracasso da Kodak era passível de evitar. A competição digital fez a empresa pedir falência em 2012, vendo seus altos números despencar.

Ainda assim, o pilar da impressão de fotografias ainda é forte na empresa nos dias atuais. Inclusive, na CES de 2019 foram apresentadas câmeras de impressão instantânea. Além disso, ela passou a investir no negócio de outsourcing de impressão e equipamentos, especialmente as domiciliares. Hoje, o cenário da fotografia digital está nas mãos de concorrentes como Canon, Sony e Nikon, marcas que atualizam seus modelos de câmeras constantemente.

Contribuições da Kodak

Todo esse relato passou por uma linha editorial, priorizando uma lógica de storytelling. Ou seja, nem todas as informações de fato foram expostas — o que é impossível. No entanto, este tópico é extremamente importante para ficar de fora. A Kodak foi importantíssima para o cenário da fotografia, sem dúvidas. Mas a empresa ofereceu outras contribuições para o mundo com suas 1.100 patentes registradas.

Hollywood

Thomas Edison é um nome bastante famoso, impossível de desassociar da invenção da lâmpada incandescente. Além da iluminação, Edison também carrega um grande portfólio de patentes e invenções. Enquanto trabalhava com Eastman, Edison cortou o filme de 40mm inventado por George, deixando-o com 35mm, padrão utilizado na indústria cinematográfica.

Smartphones

Além dos filmes de Hollywood e a democratização das fotografias, a Kodak criou diversas patentes. Uma delas é carregada para lá e para cá por nós todos os dias em nossos smartphones: as telas com tecnologia OLED, desenvolvida em 1999. A emissão luminosa a partir de diodos veio de uma parceria da Kodak com a Sanyo. Os benefícios desse recurso de display tange o consumo de energia dos aparelhos e a qualidade das cores das telas.

Além disso, a patente das câmeras digitais da Kodak foram vendidas para a Apple, Google, dentre outras empresas referências em 2012. Afinal, a solução que a empresa encontrou para frear o fracasso foi a venda de suas tecnologias.

Moral da história

Quaisquer negócios estão sujeitos ao declínio, mesmo os de grande porte. É louvável que os c-levels possuam uma visão estratégica para manter as empresas nos trilhos. Por isso, é preciso muita cautela nesse momento, porque engatar na jornada digital significa uma adaptação a um mundo totalmente diferente.

E até as empresas que já nasceram em ambientes digitais como a Uber ou iFood devem estar sempre atentos às necessidades do mercado e do seu público. Inclusive, os clientes devem estar sempre em foco — obviamente. Se eles reagiram bem à algo novo que surgiu, considere colocar a novidade no seu negócio, avaliando sempre as vantagens e riscos de se adaptar.

O criação de fintechs como a Nubank praticamente obrigou os bancos tradicionais a adotarem modelos digitais; os principais do Brasil já possuem seus próprios aplicativos, por exemplo. O Banco do Brasil é um deles, sendo o primeiro a ser criado no país (não é à toa que o código pra TED é 001) e nem por isso ele saiu de cena. Mas se a direção não tiver atenção, vai acabar repetindo o mesmo fracasso da Kodak.

Quer mais um exemplo? O Banco Central também foi impactado pelas fintechs e o mundo digital. A partir de novembro de 2020, os brasileiros vão ter uma forma de pagamento diferente do cartão de crédito e do boleto. Com a plataforma PIX, o Bacen promete pagamentos instantâneos por QR Codes, tendência que já pegou a Visa.

Moral da história? Digitalize-se! “Ah, mas eu não tenho ideia de como”. Então encerro este artigo com a recomendação de quais tecnologias aplicar nos seus negócios em 2020 — e que muito provavelmente ainda estarão em alta pra depois.

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13 respostas

  1. Outra gigante da fotografia, a japonesa FUJIFILM, concorrente da KODAK, rapidamente se reposicionou e partiu para o sistema digital, diversificou seus negócios, partindo para a área médica e continua bem viva no mercado.

  2. Bom conteúdo mas para la da explicação aqui patente,faltou frisar que mesmo dentro da sociedade muitos dos grandes accionistas ja detinham acções em companhias de telefones moveis e foram sempre inviabilizando um reenvestimento para assim poderem acompanhar as marcas que ja haviam consolidado o seu negocio no digital

  3. Muito interessante, não podemos subestimar o poder da digitalização, mesmo sendo uma empresa grande
    como a Kodak, veio a falir por acreditar que isto seria impossível, perante ao seu feito e fatia de mercado.
    Nos serve de lição para estarmos sempre atento às novas tendências.

  4. Ótimo conteúdo bem explicado,acho que o mundo da tecnologia está cada vez melhor se reinventando a cada dia . pensando assim em um futuro próximo,acho que as escolas e faculdades também deveriam se reinventar um pouco na tecnologia para as crianças futura usarem mais ferramentas digitais no computador e saírem um pouco do papel assim a natureza vai agradecer tantas matas foram desmatadas,gerando um lixo que não conseguimos aproveitar nem 50%.

  5. Achei bastante interessante, em um bom conteúdo, para podermos refletir a respeito de novas tecnologias que vão ser desenvolvidas é poderão ser esquecidas com o tempo.

  6. Achei muito interessante o conteúdo e ao mesmo tempo surpresa pois não conhecia a história da Kodak.

    É impressionante como uma empresa cria uma inovação e ao mesmo tempo acaba falindo.

    Lamentável!

  7. Com a chegada da tecnologia digital creio eu quem não se adaptar e também se atualizar vai ser como a Kodak e varias outras a irem a falência

  8. Surreal ! Tanta resistência… em um novo mundo da era digital, pq não se adaptar ou até mesmo se reinventar ,pra seguir no mercado, transformando o que já era de domínio .
    Inacreditável .

  9. Gostei muito do conteúdo,muito explicativo e abriu um leque na minha cabeça sobre o mundo digital e a história da Kodak foi muito bom conhecer e como bom profissional evitar que isso aconteça em outras empresas contemporânea.

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